quarta-feira, 15 de maio de 2013

Guarda (muito mais que) Chuva

Quantos guarda-chuvas você já perdeu?

Será que eles fugiram por vontade própria? Será que existe um quilombo de guarda-chuvas livres? Será que existe um sequestrador especialista em rapto de guarda-chuvas? Será que existe um buraco negro, que ao invés de reter luz, aprisiona os guarda-chuvas? Será que existe um universo paralelo onde as Senhoras e Senhores guarda-chuvas perdem os seus humanos?

Não apenas pelo formato aramado, mas também pelas histórias que ele encoberta, o guarda-chuva é um objeto curioso. Estudos arqueológicos apontam que ele surgiu há 3.400 anos. Precisamente na Mesopotâmia, região onde raramente chove, e talvez por isso, inventaram um artefato que fosse capaz de guardá-la. 

Quantas gotas de vida um guarda-chuva é capaz de guardar?

A hiperativa criança que brinca na tempestade e vê o guarda-chuva como sua arma mais potente, com mira de visão noturna, sensores que alertam quando o perigo se aproxima e capaz de atingir inimigos a uma distância quilométrica.

O supersticioso senhor de idade que no momento em que as cortinas do céu se abrem e a chuva dá um sossego utiliza seu guarda-chuva como uma elegante bengala. Até que a dor em seu joelho volte a lhe atormentar, avisando a chegada da próxima tormenta.

O atencioso guarda-costas que segura o guarda-chuva para proteger o seu cliente dos projéteis que caem furiosamente do céu, abrindo mão da cobertura do seu meio homônimo para ficar todo encharcado. Ócios do ofício.

A aprazível donzela que parada no ponto de ônibus utiliza seu guarda-chuva como um escudo contra a insalubre água da poça, por onde os veículos da rua insistem em passar, sem piedade. A diversão das pessoas secas é deixar a outra molhada.

O metódico colecionador que dedica o maior cômodo de sua pequena e entulhada casa, para armazenar, catalogar e expor seu xodó, a coleção de guarda-chuvas de diferentes modelos, diversas cores e displicentes donos. Como diriam os espanhóis, achado não é roubado.

O astuto morador de rua que ao sentir o primeiro pingo de chuva corre para posicionar o seu guarda-chuva do lado avesso, para que assim consiga armazenar a maior quantidade possível da verdadeira água benta. Aquela que vem direto do céu, sem pedágio.

O apaixonado casal que sem perceber, é unido pela primeira vez sob a proteção do guarda-chuva, e agora passeiam abraçados pela calçada, criando assim o clima muito aguardado por ambos, para o então primeiro beijo.

O sombrio assassino que com seu discreto guarda-chuva persegue sua próxima vítima. Ele já conhece a sua rotina, sabe que ao sair da banca de jornal ela atravessar a rua, e é neste exato momento que ele mira, acerta o alvo e depois some no meio da multidão.

A desolada viúva que no enterro do seu amado, embaixo de um antigo guarda-chuva, encontra na tempestade que cai, um companheiro para o seu pranto: o tempo.


Um objeto que deixa o seu dono de cabeça quente e pés frios. O guarda-chuva é um símbolo da contradição.